O homem Luiz Fernando Mercadante

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O jornalista Luiz Fernando Mercadante faleceu esta madrugada. O velório está sendo agora, no Cemitério da Quarta Parada.
Luiz Fernando Mercadante não foi apenas um grande jornalista. Foi uma grande pessoa. 
Tive o privilégio de conviver com ele desde os 5 anos de idade quando, ele interno no Colégio Marista de Poços, conheceu e se casou muito jovem com minha tia Zélia. 
O casamento foi quase um comício. Como padrinho do noivo, Carlos Lacerda - que ele conheceu através do meu avô Issa Sarraf, presidente da UDN de Poços e amigo pessoal de Lacerda; como padrinho da noiva, Bilac Pinto. 
Pouco antes, Mercadante havia rumado para o Rio para trabalhar na Tribuna da Imprensa. Durante algum tempo morou na casa do pai do (também grande) jornalista Luiz Garcia, um médico lacerdista. 
Apesar da pouca idade, em pouco tempo firmou-se como um dos grandes repórteres políticos da sua época. Alto, bonito, extremamente educado, uma gentileza inata no trato com as pessoas, conquistou o mundo político e jornalístico carioca. 
Uma certa instabilidade emocional interrompeu sua carreira e fê-lo passar uma temporada em Poços, se restabelecendo. Foi um período curto em que, com 7 ou 8 anos de idade, convivi com Fernando. E essa convivência ajudou na definição futura da minha vocação. 
Depois, perdemos contato. O casal se separou, Fernando veio para São Paulo e deu início à segunda etapa da sua carreira, agora na Editora Abril, onde participou de projetos relevantes. 
Só vim a saber dele novamente quando entrei na USP, no início de 1970. Tia Zélia me disse que Fernando queria almoçar comigo. Uma vez por semana ele almoçava em sua casa, em geral na companhia de Luiz Garcia, na época Secretário de Redação de Veja. 
O motivo foi um Festival de Música em Casa Branca, que venci no ano anterior. Uma das juradas trabalhava na Realidade. Comentou com Fernando que lhe disse, com orgulho: "É meu sobrinho". Com o mesmo orgulho com que me referia a ele, como meu tio. 
Foi nesse almoço que Garcia me arrumou um emprego de estagiário na revista. 
Logo no início da minha caminhada em Veja, Fernando saiu da Realidade e tornou-se correspondente da Abril em Nova York. De lá continuava acompanhando minha carreira e me incentivando, com uma generosidade incomum, inclusive quando se referia a adversários, dentro da Veja, que tentavam derrubá-lo. 
Depois, passou pelo Jornal da Tarde, em sua fase áurea, foi para a Globo, dirigiu a sucursal de São Paulo e, depois, de Brasília, jamais perdendo a lhaneza no trato com as pessoas. 
Nos anos 80, foi o primeiro responsável pela Abril Vídeo, a primeira tentativa do grupo de entrar na TV, arrendando horário na TV Gazeta. O programa revelou Paulo Markun, Silvia Poppovic e a mim mesmo - contratado como comentarista econômico depois que Marco Antônio Rocha recusou o convite. 
Foi homem de muitos amores. Mas seu porto seguro sempre foi tia Zélia que o amparou até o fim. 
Não era de guardar rancor nem de se debruçar sobre a melancolia do passado. A rigor, externava apenas uma mágoa, contra Paulo Markun - que ele descobriu para a TV.  Em um período de vacas magras, Markun foi chamado para dirigir um jornal em Manaus e convidou-o para carregar o piano. Lá, como é do feitio de Markun, quando em cargos de comando, tentou humilhá-lo. Fernando pediu as contas, voltou para São Paulo, mas a mágoa permaneceu. 
Passou os últimos anos em uma chácara próxima a São Paulo. Semanalmente recebia jornais e revistas e lia sofregamente. Há um mês sofreu um AVC. Já tinha combinado com o Fernando Morais visitá-lo, assim que melhorasse. 
Não deu tempo.